quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Guincharam o meu carro - O retorno.

    Na segunda feira faltei à aula de Métodos 1, com muito sacrifício, e fui cedinho buscar meu carro no Detran. Achei que era óbvio que estava no Detran.  Então peguei uma fila para pagar o IPVA de 2011.  25 pessoas na fila e não aceitam cheque. Mas eles tinham a maquininha de cartão de débito, não precisava sacar. Ledo engano. A maquininha dele só paga até 400 reais, e eu tinha que pagar mais de 700. O cara falava por trás de um vidro bem cerrado e eu não ouvia nada. Olhando a gesticulação dele, concluí que eu poderia sacar no terminal do BB ao lado, e não precisaria mais pegar fila. Mas no terminal do BB tinha outra boa fila. Os vidros transparentes deixando entrar a radiação eletromagnética, e nenhum buraco para o vento levar a energia térmica para fora. Até eu estava me abanando. Saquei, voltei, paguei.  Agora para retirar o carro tinha que ir lá embaixo, na entrada do Detran.  O homem lá me avisou logo que carro apreendido não saía antes de cinco dias úteis, de conformidade com a lei.  E que ele nem sabia ainda se meu carro estava lá, pois não tinha processado no computador (sempre culpa do computador!). Podia estar lá, ou na Transalvador, ou na Prefeitura. Que eu ligasse à tarde.
   Voltei para casa, passando mal do ouvido.  Olhei o código de trânsito, que dizia que assim que se resolvesse o problema o carro poderia ser liberado.  Liguei para a ouvidoria. Uma mulher com voz simpática e eficiente disse que minha história era muito estranha. Fez questão de pegar o número de meu celular (que só minha família tem), para me ligar assim que tivesse alguma informação.
    Que saudades de meu carrinho! Se o Detran tivesse me mandado o IPVA deste ano, eu teria pagado como sempre faço e nada disso estaria acontecendo.  13h começava a aula de Física 4, para tirar as últimas dúvidas de meus caros alunos, antes da prova.  Peguei o táxi até o Banco do Brasil da UFBa, pois já era a data do vencimento do cartão, e Deus me livre de mais complicação com coisas a pagar.  Claro que minha mochila cheia de cadernos e livros não passava na porta giratória do banco, nem na janelinha. Fiquei lá na roleta, empatando todo mundo que queria entrar, até que o guarda desse uma olhada na mochila e me liberasse. Demorou um tempo, pois era dia 05/12 e a fila dentro do banco estava respeitável.
   Paguei e fui embora pro PAF 1. Tentei cortar caminho pela frente da Biblioteca, para não me atrasar demais, e acabei indo parar lá no estacionamento da Ademar de Barros.  O senso de desorientação que acomete os físicos me atacou, e não consegui reconhecer onde eu estava. Mas isso só dura alguns segundos, e consegui chegar uns 20 minutos atrasado na minha sala.  Tinha uns 10 alunos que nunca vi antes, muito animados,  usando a lousa e a mesa, enquanto meus alunos ficavam olhando acuados, do fundo da sala.
 - O senhor vai dar aula aqui? - perguntaram.
 - Vou.
- A partir de que horas?
- A partir de uma hora (Era 1:25h).
  Eles foram legais. Arrumaram as coisas o mais rápido que puderam. Me desculpei com meus alunos pelo mau exemplo de pontualidade, e a falta de respeito involuntária para com  o tempo deles.
   Sofri para carregar minha mochilinha pra cima e pra baixo, voltando de ônibus. A coluna doía, e me senti velho.
   Chegando em casa, olhei a legislação,  que dizia que o carro poderia ser liberado assim que o motivo da apreensão desaparecesse. O que queria dizer?  Bastava pagar o IPVA, ou teria que esperar dez dias até receber o licenciamento? Liguei para o Detran, que me garantiu que o carro não estava lá. Que ligasse para a Transalvador.  Mas só dava ocupado.  Quando consegui falar, já eram umas 5:15h.  Deram outro número: o do pátio da Transalvador, que fica no Vale dos Barris. Finalmente encontrei meu carro. Bastaria pagar R$ 111,00 pelo guincho, e mais 2xR25,00 pelas duas noites que eles hospedariam meu celtinha. Além disso, levar uma cópia do comprovante de pagamento do IPVA. Aí eles me liberariam o carro. Mas tinha que ser no outro dia, terça, pois fechavam às 5:30h.
Se no momento da apreensão tivessem me informado onde meu caro ficaria, ou se pelo menos tivessem escrito isso na notificação que me deram, eu teria ido diretamente lá, na segunda feira de manhã mesmo.  De qualquer forma que alívio que senti. Só o fato de saber onde o carro estava, já me tirava um grande peso das costas.
  Terça-feira peguei o ônibus pros Barris. Cheguei cedo, me atenderam com rapidez e simpatia. Me deram o papel para eu pagar as despesas que tiveram com meu carro. Deveria também xerocar todos esses papéis e mais o documento do carro. Só que nada é tão ruim que não possa piorar.  Eles não dispunham de caixas, e eu teria que andar até a Av. sete.  E eu era o último a ser atendido antes de eles começarem uma assembléia que não tinha hora para terminar.  Quando fui sair para pagar, o portão já estava trancado. Foram procurar o porteiro para abrir para mim.
  No dia anterior a moça tinha me dito que seriam 161 reais no total.  Por precaução levei 180 em dinheiro vivo. Quando fui pagar na casa lotérica, eram 186.  Eles tinham me cobrado três pernoites: Sábado para domingo, domingo para segunda e segunda para terça.  Não sei qual é a hora do check-in, pois quando larguei meu carro apreendido na Garibaldi, eram 2h da madrugada de domingo.
  Mas felizmente a moça da casa lotérica podia sacar a diferença para mim.  Paguei, xeroquei, tomei uma laranjada para o meu ouvido aguentar o tranco. Liguei para minha mulher para avisar que ela tinha que voltar de táxi, do hospital.
  Voltei ao pátio da Transalvador, e encontrei um monte de gente do lado de fora, esperando a Assembléia terminar. Depois de uma hora deixaram um cara entrar.  Uma loura inteligente tentava convencer o cara a deixar ela entrar para inicar o trâmite de liberação de uma moto.  Lembrei que o rapaz tinha me dito que eu tinha prioridade, pois era só entregar os comprovantes e pegar o carro.
 - O meu é rápido: É só entregar os papéis e pegar o carro - falei.
 - Mas você vai ter que esperar. Só tem duas pessoas trabalhando aqui. Eu e o outro lá dentro. Quando você pagou?
 - Acabei de pagar agora.
   Uns 10 minutos depois ele me deixou entrar.  E acabou entrando ele mesmo para me atender. Esse pessoal da Transalvador é simpático.  Disseram que no Detran o carro fica preso por pelo menos 5 dias,  e que isso é possível graças a uma resolução aí, 98 ou 68, não lembro. Mas que na Transalvador eles abrem mão disso e liberam logo.
   Finalmente ia ver meu carrinho.  O rapaz do estacionamento me perguntou se o carro estava fácil de tirar.  Como eu poderia saber?  Não estava. Tinha outro atravessado na frente, e teria que esperar a empilhadeira, que estava ocupada com três novas vítimas que acabaram de chegar.  Me deu um papel que eu deveria entregar ao porteiro, para provar que meu carro estava realmente liberado.  Longos minutos de espera pela empilhadeira.  Quando ela chegou, senti que estava livre!  Fui com o carro até o largo portão fechado, sem ninguém para abrir.  Cheio de funcionários com a roupa da Transalvador, e eu ali, sozinho com meu carro na frente do portãozão, sem ninguém que me desse alguma explicação.  Esperei uns minutos e resolvi sair do carro para perguntar onde estava o porteiro.  O primeiro não soube me dizer. O segundo me apontou para o próprio rapaz que meu deu o papel de saída e que tinha orientado o cara da empilhadeira para liberar meu carro.  Ele era o porteiro! Saí finalmente. Que mundo estranho!  Parece Alice no País das Maravilhas!
   Se fosse no Japão nada disso aconteceria, e eu não teria assunto nenhum para estar aqui papeando com vocês.  O Brasil é tão interessante!
   Meu amigo tem uma gráfica e acha que quem tem dívida é que deve prestar atenção para pagar sempre em dias, mesmo que a fatura não chegue. A obrigação é de quem deve, não de quem cobra, diz ele.  Eu aqui, físico com 56 anos, tão esquecido, tenho que estar de olho no pagamento do IPTU, do IPVA, do cartão de crédito, da GVT, da TIM, da Coelba, do condomínio, etc, pois se a fatura não chegar na data prevista, eu vou ter que pagar multa e sofrer muitas aventuras...
   Ainda acho que seria muito mais prático se eu somente fosse obrigado a pagar as coisas cujas faturas me fossem apresentadas.  Seria tão agradável se facilitassem a vida do cidadão...
   Um aviso: se guincharem o carro de vocês (que isso nunca aconteça), não esqueça de perguntar para onde vão levar, e tudo o que é necessário para fazer a retirada.  Provavelmente ainda ficará faltando alguma informação.

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