terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ex-professor da UFBa ganha Prêmio Jabuti.


Nosso colega Caio Castilho postou essa nota na lista de discussão da UFBa:

Cipriano Carlos Luckesi, ex-professor da Universidade Federal da Bahia, com o seu  livro Avaliação da aprendizagem: componente do ato pedagógico, conquistou o 2º lugar no Prêmio Jabuti, na área da Educação, promoção da Câmara Brasileira do Livro.
Cipriano ingressou na Faculdade de Filosofia em 1971, na categoria de “Relação Bancária” , posteriormente correspondente à condição de Professor Colaborador,  hoje à de Professor Substituto. Recém-chegado a Salvador, seu orientador  e grande incentivador, à  época, foi o Professor Antônio Luiz Machado Neto, ilustre professor de Direito e Sociologia de nossa universidade. Seis meses depois, por concurso de títulos, tornou-se Auxiliar em Ensino e, em 1977, passou à condição de Professor Assistente, desta vez  por concurso público de provas e títulos. Em 1984, tornou-se Professor Adjunto, por progressão na carreira, e, nesta categoria, aposentou-se em 2002. Continuou, no entanto, a atuar no Programa de Pós-Graduação em Educação, através de um trabalho voluntário, até 2010. Atuou no Programa de Pós-Graduação em Educação, FACED, de 1985 a 2010. Publicou 14 livros, vários artigos em revistas especializadas e em meios eletrônicos. Nos últimos vinte anos a Editora que acolheu os seus livros foi a Cortez Editora, de São Paulo, tendo sido através dela, que, em janeiro de 2012, publicou o livro que agora recebe o Prêmio Jabuti. 
Cipriano é Bacharel em Teologia, PUC/São Paulo (1968), Licenciado em Filosofia, IFCH, UCSal (1970), Mestre em Ciências Sociais, FFCH, UFBA (1976) e Doutor em Educação, PUC/São Paulo (1992).
Além dos parabéns a Cipriano, creio que a UFBA deve sentir orgulho deste seu ex-professor que, como alguns no passado, foram premiados com este prêmio Jabuti.

domingo, 9 de setembro de 2012

Eu, de Beethoven:

  Tanta gente fala que eu pareço Beethoven, quando meu cabelo está grande, que resolvi entrar no clima. Pelo menos minha cara complicada, quando estou concentrado, parece.  Chamei minha filha, peguei a foto dele na Internet, catei o casaco mais escuro, por cima de uma camisa branca, por cima da camiseta que já tinha vestido.  Trouxeram uma echarpe. O difícil foi aguentar o calor dentro de tanta roupa, e sair procurando uma partitura bem grande para encaixar com o modelo.  Suei. Mas o resultado ficou legal. Quero botar num quadro.  A partir de agora vou praticar botar o máximo de língua pra fora pra posar de Einstein!


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Lições do melhor professor que conheci.


Transcrevo aqui o texto muito bom, escrito por Roberto Leal Lobo e Silva Filho, professor titular aposentado do Instituto de Física de São Carlos da USP, presidente do Instituto Lobo,  e que foi reitor da USP. Artigo publicado na Folha de São Paulo de 29/05/12, e encontrado no link abaixo.


  Aos 75 anos, morreu na semana passada, vítima de uma parada cardíaca, Almir Massambani, docente de física desde 1962 na USP de São Carlos. Seu nome é pouco conhecido, a não ser por seus ex-alunos. 
  Almir foi um professor de verdade. Não era um cientista, fez um doutoramento porque a USP exigiu, mas o que ele gostava mesmo de fazer era de ensinar, conviver e amar seus estudantes. E era amado por eles. Fazia questão que seus alunos aprendessem o que estava ensinando.
  Era professor por excelência, pois o que o motivava e preocupava era o sucesso do aluno, não o seu próprio - figura rara nas universidades de hoje, pois o bom docente que não pesquisa tem pouquíssimos mecanismos de valorização e promoção.
  Formar bem profissionais e novas lideranças pode exigir produção, aplicação e divulgação de novos conhecimentos, mas para ensinar bem é preciso vocação e preparo específico. Caso contrário, essas instituições não deveriam ser universidades, mas centros de pesquisa.
  O que mais vejo nos meus estudos sobre evasão no ensino superior: a pouca atenção que se dá ao aluno ingressante é uma das maiores causas do abandono de cursos, como já provou Vincent Tinto, o maior especialista do mundo no assunto.
  O que vemos mais é a nostalgia - por vezes revoltada - que os docentes demonstram com a qualidade dos alunos que recebem quando comparada à de épocas passadas. Isso é um fato na maioria dos lugares, mas temos que lidar com os alunos como eles são, buscando formas de fazer com que acompanhem o curso.
  Como eu sou natural do Rio (e Almir também era), sempre comentávamos que "jacaré" se pega no início da onda. No ensino, não é diferente. Se o aluno não pega a "onda" nos primeiros meses de aula, a onda passa e ele fica - ou seja, não acompanha a disciplina, é reprovado e, muitas vezes, desiste do curso. Uma perda para ele, para a instituição e para a sociedade como um todo, pois o País fica mais pobre!
  Almir aplicou esse princípio ao enfrentar uma turma problemática no primeiro ano do nosso Instituto de Física de São Carlos. Sentou-se com a turma e quis entender qual seria o ponto correto de partida - não aquele que está nos livros, mas aquele que a turma poderia acompanhar. Explicou o que precisariam saber para poder iniciar a disciplina, orientou a cada um para cobrir as lacunas por um mês e, a partir daí, iniciou o curso propriamente dito. Sucesso absoluto, reprovação baixíssima.
 Hoje, o querido Almir seria o que se chama "coach", figura tão valorizada nos processos de formação intelectual, artística ou esportiva. Quando elogiado, perguntava: "Não é obrigação do professor fazer o aluno aprender?" Esse era o Almir. Um grande professor, o melhor que conheci. E um grande amigo. 



   Eu, Gildemar aqui, fico pensando se dá para em um mês trazer os alunos a um nível que dê para acompanhar a matéria de nível real de universidade. Se terei que ensinar a somar frações, como fica o resto?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Viva o sotaque

   Fui em Recife na quinta (05/01/12) e voltei na quinta mesmo. Fui tirar o visto para ir ao Japão. Acordei às 3 da madrugada, pois o avião saía às 5:40. Quando passei pelo bambuzal, já chegando no 2 de Julho, lembrei que tinha esquecido o passaporte. Liguei correndo pra minha filha, que trouxe de táxi.  Que sufoco. Ir até Recife tirar visto e esquecer o passaporte é demais.
   No hotel liguei a televisão na esperança de ouvir novos sotaques, que já tinha encontrado no táxi e no aeroporto, mas em vão. Se fechasse os olhos, parecia que estava ouvindo o Bahia em Revista. Todo mundo tentando padronizar a maneira de falar pelo Sul Maravilha.  Até aquela maneira estranha de falar tambéim, em vez de tamb˜ein. Nem William Waak não fala tambéim.
   Olhei para ver se era William Bonner que estava anunciando o Jornal do Meio Dia de Recife.  (Em Serrinha a gente fala "de Recife", não "do Recife"). Não era. Era um negro provavelmente pernambucano. Era impressionante. Até o timbre era igual ao de William Bonner!  Lembrei que uma vez um japonês, no Japão, tinha me perguntado porque os apresentadores de televisão de todo o Brasil falavam exatamente igual. Antes de ir ao Japão eu nunca tinha possuído uma televisão, e não soube responder. Mas fiquei envergonhado.
   Quando morava em São Paulo, costumava dar carona aos alunos da USP, na volta para casa. Gente que eu não conhecia e que ficava pedindo carona, nos pontos de ônibus.  70% deles diziam que o paulista não tinha sotaque. Quem tinha sotaque éramos nós, os nortistas. E o paulista que vai aos Estados Unidos, e fala inglês, ou que vai à França e fala francês, falam com que sotaque? - eu perguntava. Não falam com sotaque. Paulista não tem sotaque em nenhuma língua.  Até Jô Soares também é assim. Ele leva a concluir que quem fala igual a ele não tem sotaque. Elogia os baianos e gaúchos que falam igual aos paulistas e cariocas, por já terem "perdido o sotaque". Os atores baianos sofrem no sul, pois só podem pegar papéis caricatos, devido ao sotaque "nortista", como os mexicanos nos filmes americanos, fazendo sempre o papel do trapalhão.
    Na língua japonesa o acento tônico da palavra não tem nenhuma importância. O que importa é o agudo e o grave.  Se você falar amê com o a mais agudo que o , quer dizer chuva. Mas se você falar o a mais grave que o , quer dizer bala de chupar.  Se você falar sabia, sábia e sabiá, para um japonês, mas mantiver a mesma nota em todas as sílabas, ele não consegue distinguir uma da outra. Está habituado a reconhecer o grave e o agudo, e isso é tão trivial para ele que dificilmente ele terá consciência suficiente para lhe explicar isso.
  No Brasil, a diferença de agudo e grave é que dá a entonação regional.  O gaúcho e o baiano podem falar de forma perfeitamente correta, com entonações totalmente diferentes. E isso é muito bom. Mas o japonês que aprende português numa região tem dificuldade de entender o português de outra, devido à mudança de entonação. O paulista pergunta "Você vai?" usando uma entonação descendente no "vai". O baiano pergunta "Você vai?" usando uma entonação ascendente no "vai".
  Quando estava na faculdade, participei de um Congresso Internacional de  Esperanto em Brasília. Os europeus me perguntavam como se dizia as coisas em português, e uma mulher do sul se apressou em avisar a eles para não aprenderem comigo, que eu falava de uma forma muito áspera e rude. E ela nem se dava ao trabalho de falar na minha ausência.
   No entanto, quando fui ao Japão fiquei surpreso ao ouvir um japonês perguntar por que as descendentes de japoneses que vinham de São Paulo falavam um japonês tão agressivo, enquanto que eu não. Senti o prazerzinho do troco. Principalmente porque uma delas saía espalhando a todos japoneses que eu falava um dialeto do português, dando a impressão de que eu falava errado, que meu nível de cultura era inferior. Na língua japonesa, errar a entonação é errar a língua, é falar um dialeto. Mas não no português, graças a Deus.
   Meditando sobre isso, fiquei imaginando que o sotaque que cada um de nós aprende, aprende no berço, com a mãe. É algo que tem um valor sentimental muito importante em nossas vidas. E de repente alguém se arvora o direito de dizer que você fala de forma inferior a um padrão, geralmente ditado pela economia. É ruim. E isso nos faz concluir obviamente que é importante respeitar todos os sotaques. O paulista que cresceu falando manhê, a soteropolitana que aprendeu mãinha. Não há erro nem mal nisso. O erro está em querer impor ao outro o seu padrão.
  Mas é preciso tomar cuidado. Aqui em Salvador, quando muitas pessoas se erguem para falar em público, frequentemente se sentem como um ator da Globo, e começa a enfileirar artigos antes dos nomes próprios, que não é próprio da nossa cultura: Vamos ouvir agora a Camila fazendo uma homenagem ao Rodrigo.
  A língua é viva - dirão - e está sujeita a mudanças.
  Mas devagar. Um repúdio à própria cultura não pode justificar uma subjugação servil às classes dominantes. Ouvir a televisão local de Pernambuco falar igual a William Bonner me dá a sensação de ir visitar a Tanzânia, e encontrar os nativos todos com perucas louras e lentes de contato azuis, em nome da globalização. Pernambuco não é especial. Aqui na Bahia sinto esse mal estar ainda mais forte, por ver minha cultura de berço ir se dizimando...
  Vamos respeitar as diferenças, e dar vivas à biodiversidade também no sotaque. Tudo de conformidade com o bom senso e o equilíbrio.