sexta-feira, 20 de abril de 2012

O trânsito está ficando mais irracional

  Outro dia ia dar aula, e quando ia para o PAF 5, entrando ali pela Veterinária, um grupo de alunos ia pelo meio da rua tranquilamente. Nem se preocupavam com carros, e tinha passeio livre de sobra dos dois lados.  Fiz barulho com o acelerador para que percebessem minha aproximação.
  Contardo Caligaris diz que em cada parte do mundo os pedestres atravessam a rua de uma forma diferente.  Que em São Paulo eles não tem medo de ser atropelados porque não dão muito valor à vida, senão me engano. Em Nova Yorque eles não tem medo de ser atropelados porque podem contratar um advogado, e lá é o paraíso dos advogados.  Aqui em Salvador os pedestres metem o pé no meio da rua e olham para a outra direção com o queixo arrebitado e desafiador, como quem pensa: Só quero ver se você me atropelar!  Com certeza não estão se fiando nos nossos advogados.
  E quando você é gentil e diminui a velocidade, em vez de eles se apressarem para mostrar agradecimento e consideração por você, eles andam mais devagar aindo, usufruindo daqueles poucos instantes em que o carro deixou ele passar num lugar onde ele não tem direito.
   Percebendo o barulho do carro se aproximando, o rapaz tomou um susto e correu para o passeio.  Os outros sorriam e abriram passagem. Quando cheguei no PAF 5 e estacionei, eles vinham chegando. O rapaz se adiantou e gritou com toda a sua potência vocal:
  - Você está maluco? Queria me matar? -Ele era bem alto e musculoso.  Eu sou baixo e fraco, mas confio na luta pela verdade.
 - Por acaso, eu estava dirigindo no passeio? - perguntei me aproximando.
  Ele se irritou. Gritou o mais alto que podia que ia me dar um bocado de socos. Só não roçava o nariz no meu porque era mais alto.
 - Use a cabeça, não os músculos - falei.
  Precisamos educar as pessoas.  Para quê?  Ele veio correndo para cima de mim, perguntando se eu queria morrer, me chamando de moleque.  Resolvi deixar para lá, pois a aula que eu ia dar era a última antes da prova, e meus alunos são mais importantes. Se ele me batesse talvez não conseguisse ensinar.
   É preciso educar as pessoas para que usem argumentos, não violência.  E discussão nas ruas pode ser positiva.  Lembro do livro "Liberdade sem medo", onde o educador Neil puxou a orelha de um menino que jogou pedra nele na rua.  Ele acha que dá uma de que eu sou muito superior a você, com a criança, seria mais negativo do que tomar a reação mais natural de puxar a orelha.
   As pessoas podem muito bem discutir seus direitos pela rua. É positivo.  Agora se agredir, se matar, isso é insanidade.  Precisamos educar todos para um mundo mais racional.
   Hoje vinha voltando da faculdade, e um carro atravessado impedia minha passagem.  Olhei para a cara do motorista.
  - E daí? - ele gritou agressivo.
  - Você está atrapalhando a passagem.
  - E por acaso você é da prefeitura? - ele berrou, mostrando o nível de civilidade.
  A UFBa anda caótica.  As próprias autoridades não estão preocupadas com o trânsito.  De repente começaram a construir prédios nos estacionamentos, sem nenhum comunicado prévio aos milhares de usuários.  Quando você pensa em usar o estacionamento da Ademar de Barros, bem longe de onde dá aula, descobre que eles resolveram reformar todo aquele grande estacionamento de vez, no período letivo. Aí você entende porque os carros estão estacionando sobre os passeios, e não acha vaga nenhuma. Ninguém pensou em onde os funcionários, professores e estudantes estacionarão.  Achou ruim?  Eles resolvem então consertar largas faixas de passeios, e ainda colocam uma corrente atravessando todo o passeio que dá acesso ao PAF 1.
   Acho que precisam ensinar Geometria de Euclides nas escolas. E cidadania.