terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ex-professor da UFBa ganha Prêmio Jabuti.


Nosso colega Caio Castilho postou essa nota na lista de discussão da UFBa:

Cipriano Carlos Luckesi, ex-professor da Universidade Federal da Bahia, com o seu  livro Avaliação da aprendizagem: componente do ato pedagógico, conquistou o 2º lugar no Prêmio Jabuti, na área da Educação, promoção da Câmara Brasileira do Livro.
Cipriano ingressou na Faculdade de Filosofia em 1971, na categoria de “Relação Bancária” , posteriormente correspondente à condição de Professor Colaborador,  hoje à de Professor Substituto. Recém-chegado a Salvador, seu orientador  e grande incentivador, à  época, foi o Professor Antônio Luiz Machado Neto, ilustre professor de Direito e Sociologia de nossa universidade. Seis meses depois, por concurso de títulos, tornou-se Auxiliar em Ensino e, em 1977, passou à condição de Professor Assistente, desta vez  por concurso público de provas e títulos. Em 1984, tornou-se Professor Adjunto, por progressão na carreira, e, nesta categoria, aposentou-se em 2002. Continuou, no entanto, a atuar no Programa de Pós-Graduação em Educação, através de um trabalho voluntário, até 2010. Atuou no Programa de Pós-Graduação em Educação, FACED, de 1985 a 2010. Publicou 14 livros, vários artigos em revistas especializadas e em meios eletrônicos. Nos últimos vinte anos a Editora que acolheu os seus livros foi a Cortez Editora, de São Paulo, tendo sido através dela, que, em janeiro de 2012, publicou o livro que agora recebe o Prêmio Jabuti. 
Cipriano é Bacharel em Teologia, PUC/São Paulo (1968), Licenciado em Filosofia, IFCH, UCSal (1970), Mestre em Ciências Sociais, FFCH, UFBA (1976) e Doutor em Educação, PUC/São Paulo (1992).
Além dos parabéns a Cipriano, creio que a UFBA deve sentir orgulho deste seu ex-professor que, como alguns no passado, foram premiados com este prêmio Jabuti.

domingo, 9 de setembro de 2012

Eu, de Beethoven:

  Tanta gente fala que eu pareço Beethoven, quando meu cabelo está grande, que resolvi entrar no clima. Pelo menos minha cara complicada, quando estou concentrado, parece.  Chamei minha filha, peguei a foto dele na Internet, catei o casaco mais escuro, por cima de uma camisa branca, por cima da camiseta que já tinha vestido.  Trouxeram uma echarpe. O difícil foi aguentar o calor dentro de tanta roupa, e sair procurando uma partitura bem grande para encaixar com o modelo.  Suei. Mas o resultado ficou legal. Quero botar num quadro.  A partir de agora vou praticar botar o máximo de língua pra fora pra posar de Einstein!


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Mais música

Dia 20/09, quinta feira, Esdras, o grande professor da Física, convidou o Ateneu Musical para um evento na Igreja Batista Esperança, onde ele e seus amigos fazem um trabalho brilhante, dos que todos nós deveríamos fazer, estimulando a cultura, leitura e crescimento da população carente.  Só consegui filmar duas das músicas que tocamos lá:

1- Largo, de Bach (Luar de Santo Amaro, segundo Caetano)


2- Saudades do Ceará 
(de Agenor Gomes, um dos compositores do Hino do Bahia)





  No ultimo sábado de agosto,  teve o Bon-Odori da Anisa na AABB,  e o coral Kosmos, que só canta músicas japonesas e existe desde 1997, cantou na abertura acompanhado do Ateneu Musical. Eu tou lá no meio.
  Vejam os vídeos:
1-Hamabe no Utá


2- Kazê


3-Ano subarashii ai o mou ichi do


4- Akatombo



5- Kampai

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Mateus Prado fala sobre a greve - muito bom

   Vai abaixo o ótimo artigo de Mateus Prado, que catei no IG. Cuidado que em vez de usar campi, para plural de campus, ele usa câmpus!


Mateus Prado
Educador analisa o Enem, os vestibulares e o ensino brasileiro

Greve nas federais é resultado da expansão das universidades
Para a ampliação do ensino superior ajudar o País, governo deve priorizar o orçamento para educação
Como entender a greve que paralisou quase a totalidade das universidades federais, ficou em segundo plano nas editorias da grande imprensa e só veio fazer, efetivamente, parte da pauta do debate nacional depois que o governo apresentou sua proposta, quase dois meses depois de seu início? 


Proposta aos professores: Governo prevê reajuste de até 45% em até três anos 
Resposta de sindicatos: Proposta não atende às reivindicações; greve deve continuar
Posição do ministro: Mercadante diz que não há margem para melhorar proposta


No governo Fernando Henrique houve greve nas federais praticamente todos os anos. A era Lula foi diferente, com movimentos pontuais, e nenhum movimento colocou em risco um semestre inteiro de milhares de alunos. 

Mas foi durante a gestão de Lula que ocorreu a gestação desta que é a maior greve, em volume de alunos prejudicados, que as federais já passaram em toda sua história. Se a ampliação do orçamento do Ministério da Educação, logo no início do governo Lula, satisfez parte das lutas históricas dos professores, logo esta ampliação foi direcionada para a expansão de vagas no ensino superior.

Passamos de 45 para 59 federais no Brasil. Todas as universidades que já existiam fizeram opção por entrar no Reuni e abriram mais de 120 câmpus em cidades polo de todo o Brasil. 

Ótimo. Mas, com a expansão, que ainda é necessária para incluirmos mais brasileiros no ensino superior público, seria necessário que tivéssemos orçamento ainda maior e uma melhor gestão das instituições. Não foi exatamente o que aconteceu. Na Unifesp Guarulhos falta refeitório. Na UFABC não há laboratório. Na UFRJ falta hospital universitário para os alunos da Medicina de Macaé. Os hospitais universitários de quase todas as federais apresentam processo de sucateamento. Por todo lugar que procuramos é fácil achar, nos novos câmpus, obras inacabadas ou nem iniciadas, equipamentos que não chegam, bibliotecas defasadas.

Ou o governo federal fez a opção de fazer universidade de segunda linha para a inclusão ou a decisão política do governo de expandir o ensino superior não foi consensual em todas as áreas da administração, sobretudo dos mandatários do Planejamento e das Finanças.

Esta expansão incluiu milhares de professores nas universidades e criou conflitos brancos, que não aparecem aos olhos da população acadêmica, mas que amarga os novos professores. Entraram na base da carreira. Hoje, o piso do professor, em início de carreira, para 20 horas semanais, é de cerca de R$ 1.500. Sim, existem salários maiores para professores novos, mas nada perto dos R$ 12.000 divulgados pelo governo, com possibilidade de chegar aos R$ 17.000 em 2015. 

Mesmo com salários menores, estes professores têm que manter aulas da mesma forma que os que estão há mais tempo e com remuneração maior. São eles que estão nos novos câmpus, – aqueles com mais dificuldades –, mais distantes de suas famílias. Dentro da estrutura das universidades que já existiam, em geral é para eles que sobra o trabalho de cumprir uma das metas do Reuni, a de ter 18 alunos por professor nas universidades publicas federais. Naturalmente, a organização acadêmica deixa as maiores dificuldades para quem chega depois. E esta geração de novos professores vê frustrada, por tempo, estrutura e financiamento, suas expectativas de desenvolvimento de pesquisa e de extensão universitária. Aliás, essa é uma das armadilhas da proposta feita pelo governo, que atrela os níveis de carreira, além do tempo de serviço, a aperfeiçoamento, especialização, mestrado e doutorado. 

Mas, já que a proposta aumenta o tempo de aula de cada professor, deixa-os com pouco tempo para essas atividades, sobretudo se precisarem complementar seus salários com outros trabalhos.
Sobre a proposta salarial do governo é claramente notável que o governo mentiu sobre os números. O aumento de 45% não é verdadeiro. Ele só existe para o topo da carreira, lugar em que a maioria dos professores nunca chegará. A média dos aumentos propostos é de pouco menos de 29%, a ser paga, efetiva e integralmente, só em 2015. 

Ora, se o último aumento para os professores foi em junho de 2010 (os 4% deste ano já estão no cálculo do aumento), e a economia continuar da forma que está, teremos uma inflação de pelo menos 5% ao ano. E, com uma simples conta de juros compostos, podemos ver que o aumento real, médio, do professor, será de algo entre 6% e 7%.

Em alguns casos, o salário proposto pelo governo deve baixar. É o caso do professor em início de carreira, que deve passar a ganhar R$ 1.800 em 2015, valor que não cobre a inflação do período. 
A expansão do ensino superior deveria continuar entre as pautas do governo Dilma, pelo bem do País. 

Para cumprir o anúncio que fez em agosto de 2011 – de criar quatro universidades federais, 47 câmpus e 208 institutos federais – o governo tem que tratar educação como prioridade e colocar o Brasil em um caminho sustentado para o desenvolvimento. Prioridade, neste caso, significa também definir prioridades orçamentárias. Se a Dilma vetar os 10% do PIB para a educação previstos no novo Plano Nacional de Educação (PNE), saberemos que a expansão do ensino superior, como a de outros níveis, foi organizada para fazer parte de um número, e não de uma política pública que ajude a tirar o País da miséria.
   

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Isto também é português:


Catei do julgamento solicitado por Chico a respeito da Apub. Mas não entendi direito do que estavam falando. Quem quiser ver detalhes:http://osaciperere.files.wordpress.com/2012/07/anulado-plebiscito-da-apub.pdf

DO JULGAMENTO EXTRA ET ULTRA PETITA.

A Ré suscita a realização de julgamento extra petita, ao argumento de que não seria possível a decretação de nulidade do plebiscito que culminou na decisão de desfiliação da ANDES – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior. Alega que o Autor somente questionou o quórum da votação na assembléia, e não da votação no plebiscito, uma vez que este sequer havia sido realizado quando da propositura da ação. Afirma, portanto, não haver causa de pedir nem pedido de declaração de nulidade do plebiscito, bem como que o Autor não poderia antever o resultado do certame. Assim, assevera que a decisão exarada teria sido extra et ultra petita.

Esse Menandro desse blogue aí escreve umas boas:

- Filho da mãe é *adjunto adnominal*, quando a frase for: ''Conheci um político filho da mãe".
- Se a frase for: "O político é um filho da mãe", daí, é *predicativo*.
- Agora, se a frase for: "Esse filho da mãe é um político", é *sujeito*.
- Porém, se o cara aponta uma arma para a testa do político e diz: "Agora nega o roubo, filho da mãe!" - daí é *vocativo*.
- Finalmente, se a frase for: "O ex-ministro, Alfredo Nascimento, aquele filho da mãe, desviou o dinheiro das estradas" daí, é *apôsto*.
Que língua a nossa, não?!
- Agora vem o mais importante para o aprendizado: Se estiver escrito:"Saiu da presidência em janeiro e ainda se acha presidente."  O filho da mãe é *sujeito oculto..*..

sábado, 9 de junho de 2012

Assembleias: racionalismo versus paixão

  Estive lendo comentários muito bons, postados pelos alunos, no facebook de Engenharia de Minas.
  Impressiona a seriedade que eles têm em buscar uma atitude sensata. Eu estava justamente pensando em contar que, na assembleia de 05/06/12, senti um clima muito forte, onde tudo que apoiasse a greve era aplaudido, e tudo que fosse contra, vaiado. Bem como os meninos falam lá no facebook. Pode parecer óbvio, mas é irracional.  Não se podia conceber alguém chegando ali, e defendendo a opção de não se fazer greve, mesmo que usasse os melhores argumentos.  Nem se concebia a Apub chegando ali e mostrando sua maneira de ver as coisas. Ou seja, a possibilidade de analisar o mais amplo leque de opções estava praticamente descartada, embora isso não estivesse explícito. Os estudantes soavam ainda mais irracionais, gritando a ponto de me causar dores nos ouvidos problemáticos. Depois assisti pelo youtube ao vídeo postado, mostrando o final da reunião.  Professoras dançando e sorrindo alegres, gritando: Se o professor lutar, o aluno vai apoiar.
  Mas desisti de escrever sobre isso, porque concluí que, depois de anos de ditadura, precisávamos dar mais destaque ao fato de que há um grupo entusiasmado com a luta pelos seus direitos, com a alegria de poder fazer greve e influenciar em um resultado.  Como os alunos do facebook falam, sobra uma impressão de que a alegria é mais pelo fato de se estar sendo revolucionário do que pela responsabilidade de se estar tomando uma decisão madura, mas esses exageros sempre ocorrem em aprendizes de qualquer campo.
  Lendo a opinião dos alunos, a princípio fiquei com a pulga atrás da orelha, pois são alunos de engenharia, e no meu tempo, eram eles os reacionários do campus, sempre furando greve.  Mas esses de agora são diferentes: eles defendem uma greve com objetivos claros, mesmo que seja o simples apoio aos professores. Achei que a luminosidade deles merece um apoio, para que esse entusiasmo continue, mas que sempre haja uma serenidade suficiente para se respeitar as opiniões, por mais absurdas que nos possam parecer.  Opiniões que visem construir precisam ser sempre ouvidas, para evitarmos cair em extremismos.
   Depois li, nas listas de discussões dos professores, gente dizendo que o que havia era uma luta de "com Lattes" versus "sem Lattes".  Professores que estavam rico graças à sua produção de pesquisa contra os pobres, como eu, que vivem apenas do salário básico. Uma luta de classe por razões financeiras, dentro da classe dos professores.  Parecia que os professores estavam entrando em guerra uns contra os outros, e por isso surgia a Apub-luta lutando contra a Apub. Meu Deus, será que estamos chegando a esse nível? É preciso que voltemos a ter aquela atuação política de antes da ditadura, mas com respeito e abrindo espaço para opiniões divergentes, pois são elas que melhoram o fator qualidade.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Lições do melhor professor que conheci.


Transcrevo aqui o texto muito bom, escrito por Roberto Leal Lobo e Silva Filho, professor titular aposentado do Instituto de Física de São Carlos da USP, presidente do Instituto Lobo,  e que foi reitor da USP. Artigo publicado na Folha de São Paulo de 29/05/12, e encontrado no link abaixo.


  Aos 75 anos, morreu na semana passada, vítima de uma parada cardíaca, Almir Massambani, docente de física desde 1962 na USP de São Carlos. Seu nome é pouco conhecido, a não ser por seus ex-alunos. 
  Almir foi um professor de verdade. Não era um cientista, fez um doutoramento porque a USP exigiu, mas o que ele gostava mesmo de fazer era de ensinar, conviver e amar seus estudantes. E era amado por eles. Fazia questão que seus alunos aprendessem o que estava ensinando.
  Era professor por excelência, pois o que o motivava e preocupava era o sucesso do aluno, não o seu próprio - figura rara nas universidades de hoje, pois o bom docente que não pesquisa tem pouquíssimos mecanismos de valorização e promoção.
  Formar bem profissionais e novas lideranças pode exigir produção, aplicação e divulgação de novos conhecimentos, mas para ensinar bem é preciso vocação e preparo específico. Caso contrário, essas instituições não deveriam ser universidades, mas centros de pesquisa.
  O que mais vejo nos meus estudos sobre evasão no ensino superior: a pouca atenção que se dá ao aluno ingressante é uma das maiores causas do abandono de cursos, como já provou Vincent Tinto, o maior especialista do mundo no assunto.
  O que vemos mais é a nostalgia - por vezes revoltada - que os docentes demonstram com a qualidade dos alunos que recebem quando comparada à de épocas passadas. Isso é um fato na maioria dos lugares, mas temos que lidar com os alunos como eles são, buscando formas de fazer com que acompanhem o curso.
  Como eu sou natural do Rio (e Almir também era), sempre comentávamos que "jacaré" se pega no início da onda. No ensino, não é diferente. Se o aluno não pega a "onda" nos primeiros meses de aula, a onda passa e ele fica - ou seja, não acompanha a disciplina, é reprovado e, muitas vezes, desiste do curso. Uma perda para ele, para a instituição e para a sociedade como um todo, pois o País fica mais pobre!
  Almir aplicou esse princípio ao enfrentar uma turma problemática no primeiro ano do nosso Instituto de Física de São Carlos. Sentou-se com a turma e quis entender qual seria o ponto correto de partida - não aquele que está nos livros, mas aquele que a turma poderia acompanhar. Explicou o que precisariam saber para poder iniciar a disciplina, orientou a cada um para cobrir as lacunas por um mês e, a partir daí, iniciou o curso propriamente dito. Sucesso absoluto, reprovação baixíssima.
 Hoje, o querido Almir seria o que se chama "coach", figura tão valorizada nos processos de formação intelectual, artística ou esportiva. Quando elogiado, perguntava: "Não é obrigação do professor fazer o aluno aprender?" Esse era o Almir. Um grande professor, o melhor que conheci. E um grande amigo. 



   Eu, Gildemar aqui, fico pensando se dá para em um mês trazer os alunos a um nível que dê para acompanhar a matéria de nível real de universidade. Se terei que ensinar a somar frações, como fica o resto?

terça-feira, 1 de maio de 2012

O por do sol de maio

Vejam como o sol se desloca ao longo do ano. Hoje ele se pôs no norte.

Por do sol em maio

E esse aqui em janeiro
E aqui, em janeiro

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O trânsito está ficando mais irracional

  Outro dia ia dar aula, e quando ia para o PAF 5, entrando ali pela Veterinária, um grupo de alunos ia pelo meio da rua tranquilamente. Nem se preocupavam com carros, e tinha passeio livre de sobra dos dois lados.  Fiz barulho com o acelerador para que percebessem minha aproximação.
  Contardo Caligaris diz que em cada parte do mundo os pedestres atravessam a rua de uma forma diferente.  Que em São Paulo eles não tem medo de ser atropelados porque não dão muito valor à vida, senão me engano. Em Nova Yorque eles não tem medo de ser atropelados porque podem contratar um advogado, e lá é o paraíso dos advogados.  Aqui em Salvador os pedestres metem o pé no meio da rua e olham para a outra direção com o queixo arrebitado e desafiador, como quem pensa: Só quero ver se você me atropelar!  Com certeza não estão se fiando nos nossos advogados.
  E quando você é gentil e diminui a velocidade, em vez de eles se apressarem para mostrar agradecimento e consideração por você, eles andam mais devagar aindo, usufruindo daqueles poucos instantes em que o carro deixou ele passar num lugar onde ele não tem direito.
   Percebendo o barulho do carro se aproximando, o rapaz tomou um susto e correu para o passeio.  Os outros sorriam e abriram passagem. Quando cheguei no PAF 5 e estacionei, eles vinham chegando. O rapaz se adiantou e gritou com toda a sua potência vocal:
  - Você está maluco? Queria me matar? -Ele era bem alto e musculoso.  Eu sou baixo e fraco, mas confio na luta pela verdade.
 - Por acaso, eu estava dirigindo no passeio? - perguntei me aproximando.
  Ele se irritou. Gritou o mais alto que podia que ia me dar um bocado de socos. Só não roçava o nariz no meu porque era mais alto.
 - Use a cabeça, não os músculos - falei.
  Precisamos educar as pessoas.  Para quê?  Ele veio correndo para cima de mim, perguntando se eu queria morrer, me chamando de moleque.  Resolvi deixar para lá, pois a aula que eu ia dar era a última antes da prova, e meus alunos são mais importantes. Se ele me batesse talvez não conseguisse ensinar.
   É preciso educar as pessoas para que usem argumentos, não violência.  E discussão nas ruas pode ser positiva.  Lembro do livro "Liberdade sem medo", onde o educador Neil puxou a orelha de um menino que jogou pedra nele na rua.  Ele acha que dá uma de que eu sou muito superior a você, com a criança, seria mais negativo do que tomar a reação mais natural de puxar a orelha.
   As pessoas podem muito bem discutir seus direitos pela rua. É positivo.  Agora se agredir, se matar, isso é insanidade.  Precisamos educar todos para um mundo mais racional.
   Hoje vinha voltando da faculdade, e um carro atravessado impedia minha passagem.  Olhei para a cara do motorista.
  - E daí? - ele gritou agressivo.
  - Você está atrapalhando a passagem.
  - E por acaso você é da prefeitura? - ele berrou, mostrando o nível de civilidade.
  A UFBa anda caótica.  As próprias autoridades não estão preocupadas com o trânsito.  De repente começaram a construir prédios nos estacionamentos, sem nenhum comunicado prévio aos milhares de usuários.  Quando você pensa em usar o estacionamento da Ademar de Barros, bem longe de onde dá aula, descobre que eles resolveram reformar todo aquele grande estacionamento de vez, no período letivo. Aí você entende porque os carros estão estacionando sobre os passeios, e não acha vaga nenhuma. Ninguém pensou em onde os funcionários, professores e estudantes estacionarão.  Achou ruim?  Eles resolvem então consertar largas faixas de passeios, e ainda colocam uma corrente atravessando todo o passeio que dá acesso ao PAF 1.
   Acho que precisam ensinar Geometria de Euclides nas escolas. E cidadania.
 

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Liberdade em queda

   O edifício Liberdade, que desmoronou no Rio, arrastando consigo o edifício Colombo, foi seguido da queda de Danielle Winits e Thiago Fragoso. O cabo que sustentava os dois no vôo sobre a platéia, na peça Xanadu, se rompeu. Os dois eventos mostram a importância do engenheiro na sociedade. 
   Espero que a queda do edifício Liberdade sobre o edifício Colombo não tenha nenhum significado metafórico. Alguma coisa como a liberdade sumindo do mundo e arrastando as Américas para o colapso.
  No Brasil, a tendência é criar leis que prendam, em vez de investir primeiro na educação.  Quem der tapa no filho vai para a cadeia, por exemplo. É preciso considerar que o castigo corporal é uma tradição que vem de muitos anos, e que precisa primeiro ser trabalhada nas escolas, criando uma consciência duradoura, num investimento sadio.  Em contrapartida as cadeias seguem abarrotadas, numa agressão social mais revoltante que os tapas nas crianças. Juízes e deputados seguem aumentando seus salários como bem querem, imputando altos impostos e desviando para seus bolsos, livres de cadeias e punições. 
  Demitiram soldados que estavam fazendo obscenidades com a estátua de uma vaca, em Florianópolis. Outra questão cultural. Os soldados não estavam fazendo mal a ninguém. Estavam se divertindo, fingindo que estavam trepando com a vaca e tirando fotos. Por que o sexo nos incomoda tanto?
  A França, o país da Liberdade, Igualdade, Fraternidade, está andando por um caminho esquisito. Proibiu as mulheres de usarem burcas, independente de elas quererem ou não. E agora vai prender quem disser que um genocídio, assim decretado por um órgão internacional, não foi genocídio. 
  Precisamos nos concentrar no que é essencial:  O ser humano não pode fazer mal a outro. Na medida do possível, pois, para mim, pagar altos impostos a um governo que não responde com melhorias sociais é um mal que me fazem. Mas todos precisam pagar impostos para manter a máquina da sociedade em funcionamento. Se o mal não é feito, vamos nos alegrar e deixar que os outros sejam felizes. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Viva o sotaque

   Fui em Recife na quinta (05/01/12) e voltei na quinta mesmo. Fui tirar o visto para ir ao Japão. Acordei às 3 da madrugada, pois o avião saía às 5:40. Quando passei pelo bambuzal, já chegando no 2 de Julho, lembrei que tinha esquecido o passaporte. Liguei correndo pra minha filha, que trouxe de táxi.  Que sufoco. Ir até Recife tirar visto e esquecer o passaporte é demais.
   No hotel liguei a televisão na esperança de ouvir novos sotaques, que já tinha encontrado no táxi e no aeroporto, mas em vão. Se fechasse os olhos, parecia que estava ouvindo o Bahia em Revista. Todo mundo tentando padronizar a maneira de falar pelo Sul Maravilha.  Até aquela maneira estranha de falar tambéim, em vez de tamb˜ein. Nem William Waak não fala tambéim.
   Olhei para ver se era William Bonner que estava anunciando o Jornal do Meio Dia de Recife.  (Em Serrinha a gente fala "de Recife", não "do Recife"). Não era. Era um negro provavelmente pernambucano. Era impressionante. Até o timbre era igual ao de William Bonner!  Lembrei que uma vez um japonês, no Japão, tinha me perguntado porque os apresentadores de televisão de todo o Brasil falavam exatamente igual. Antes de ir ao Japão eu nunca tinha possuído uma televisão, e não soube responder. Mas fiquei envergonhado.
   Quando morava em São Paulo, costumava dar carona aos alunos da USP, na volta para casa. Gente que eu não conhecia e que ficava pedindo carona, nos pontos de ônibus.  70% deles diziam que o paulista não tinha sotaque. Quem tinha sotaque éramos nós, os nortistas. E o paulista que vai aos Estados Unidos, e fala inglês, ou que vai à França e fala francês, falam com que sotaque? - eu perguntava. Não falam com sotaque. Paulista não tem sotaque em nenhuma língua.  Até Jô Soares também é assim. Ele leva a concluir que quem fala igual a ele não tem sotaque. Elogia os baianos e gaúchos que falam igual aos paulistas e cariocas, por já terem "perdido o sotaque". Os atores baianos sofrem no sul, pois só podem pegar papéis caricatos, devido ao sotaque "nortista", como os mexicanos nos filmes americanos, fazendo sempre o papel do trapalhão.
    Na língua japonesa o acento tônico da palavra não tem nenhuma importância. O que importa é o agudo e o grave.  Se você falar amê com o a mais agudo que o , quer dizer chuva. Mas se você falar o a mais grave que o , quer dizer bala de chupar.  Se você falar sabia, sábia e sabiá, para um japonês, mas mantiver a mesma nota em todas as sílabas, ele não consegue distinguir uma da outra. Está habituado a reconhecer o grave e o agudo, e isso é tão trivial para ele que dificilmente ele terá consciência suficiente para lhe explicar isso.
  No Brasil, a diferença de agudo e grave é que dá a entonação regional.  O gaúcho e o baiano podem falar de forma perfeitamente correta, com entonações totalmente diferentes. E isso é muito bom. Mas o japonês que aprende português numa região tem dificuldade de entender o português de outra, devido à mudança de entonação. O paulista pergunta "Você vai?" usando uma entonação descendente no "vai". O baiano pergunta "Você vai?" usando uma entonação ascendente no "vai".
  Quando estava na faculdade, participei de um Congresso Internacional de  Esperanto em Brasília. Os europeus me perguntavam como se dizia as coisas em português, e uma mulher do sul se apressou em avisar a eles para não aprenderem comigo, que eu falava de uma forma muito áspera e rude. E ela nem se dava ao trabalho de falar na minha ausência.
   No entanto, quando fui ao Japão fiquei surpreso ao ouvir um japonês perguntar por que as descendentes de japoneses que vinham de São Paulo falavam um japonês tão agressivo, enquanto que eu não. Senti o prazerzinho do troco. Principalmente porque uma delas saía espalhando a todos japoneses que eu falava um dialeto do português, dando a impressão de que eu falava errado, que meu nível de cultura era inferior. Na língua japonesa, errar a entonação é errar a língua, é falar um dialeto. Mas não no português, graças a Deus.
   Meditando sobre isso, fiquei imaginando que o sotaque que cada um de nós aprende, aprende no berço, com a mãe. É algo que tem um valor sentimental muito importante em nossas vidas. E de repente alguém se arvora o direito de dizer que você fala de forma inferior a um padrão, geralmente ditado pela economia. É ruim. E isso nos faz concluir obviamente que é importante respeitar todos os sotaques. O paulista que cresceu falando manhê, a soteropolitana que aprendeu mãinha. Não há erro nem mal nisso. O erro está em querer impor ao outro o seu padrão.
  Mas é preciso tomar cuidado. Aqui em Salvador, quando muitas pessoas se erguem para falar em público, frequentemente se sentem como um ator da Globo, e começa a enfileirar artigos antes dos nomes próprios, que não é próprio da nossa cultura: Vamos ouvir agora a Camila fazendo uma homenagem ao Rodrigo.
  A língua é viva - dirão - e está sujeita a mudanças.
  Mas devagar. Um repúdio à própria cultura não pode justificar uma subjugação servil às classes dominantes. Ouvir a televisão local de Pernambuco falar igual a William Bonner me dá a sensação de ir visitar a Tanzânia, e encontrar os nativos todos com perucas louras e lentes de contato azuis, em nome da globalização. Pernambuco não é especial. Aqui na Bahia sinto esse mal estar ainda mais forte, por ver minha cultura de berço ir se dizimando...
  Vamos respeitar as diferenças, e dar vivas à biodiversidade também no sotaque. Tudo de conformidade com o bom senso e o equilíbrio.